José Luís Carneiro: “Eu não demonizo o centro político e social”

Na segunda parte de uma entrevista transmitida na CNN/Portugal, José Luís Carneiro manifestou-se disponível para debates públicos com os seus adversários na corrida à sucessão de António Costa no cargo de secretário-geral do PS: Pedro Nuno Santos e Daniel Adrião.

José Luís Carneiro foi várias vezes interrogado sobre se viabiliza um Governo minoritário do PSD, mas respondeu sempre que vai concorrer primeiro para ganhar a liderança do PS e depois as eleições legislativas aos sociais-democratas. Sobre esse cenário, em concreto, apenas disse que reunirá os órgãos do seu partido para uma decisão após as eleições e 10 de março e salientou: “O nosso dever é colocar os partidos ao serviço do interesse nacional”.

Durante a entrevista, o ministro da Administração Interna procurou antes realçar a importância de o PS conquistar o chamado centro político, eleitorado que classificou como decisivo, traçando aí uma linha de demarcação em relação a Pedro Nuno Santos.

O ex-secretário-geral adjunto do PS começou por defender o diálogo com os partidos do centro democrático, nomeadamente em relação à política externa, à defesa nacional, à reforma da justiça e à reforma do sistema político.

Depois, confrontado pela jornalista com o facto de Pedro Nuno Santos, na terça-feira, também em entrevista à CNN/Portugal, ter admitido o diálogo com o PSD em matérias de soberania, José Luís Carneiro fez a seguinte observação: “Verifiquei que o meu camarada Pedro Nuno fez um grande esforço na entrevista que vos deu para vir nesse caminho”. “Há um pressuposto que nos separa: eu não demonizo o centro político e social”, frisou.

De acordo com o ministro da Administração Interna, não se deve demonizar os cidadãos “do centro-esquerda e do grande centro político, porque esses cidadãos foram quem decidiu dar maiorias absolutas quer ao PS, quer ao PPD, assim como deram também maiorias absolutas aos diferentes Presidentes da República”.

“Esse espaço do centro moderado, do equilíbrio entre a liberdade e a igualdade, e que estimula a economia de mercado, que estimula e apoia as empresas, as pequenas e as médias empresas, é um centro essencial ao equilíbrio do país. O PS sempre foi o partido que melhor interpretou este equilíbrio entre por um lado a igualdade, que dialogamos e que construímos com a nossa esquerda, e as liberdades, que construímos também com os partidos do centro político”, sustentou.

Acordos com IPSS e Misericórdias na saúde

O candidato à liderança do PS José Luís Carneiro defendeu hoje um aprofundamento dos acordos do Estado com a União das Misericórdias Portuguesas e com as Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) no setor da saúde. “Tenho a vontade de assumir na minha moção de estratégia o estabelecimento de um acordo com a União das Misericórdias Portuguesas e com as IPSS, para que, em articulação com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), possam contribuir para resolvermos aos cidadãos – na sua maioria idosos e por vezes sem retaguarda familiar – que se encontram internados nos hospitais e que têm falta de uma retaguarda familiar”, disse.

De acordo com o ex-secretário-geral adjunto do PS, a solução que propõe poderia permitir que cerca de 1500 camas fossem disponibilizadas para o SNS.

José Luís Carneiro advogou, ainda, uma “contratualização da prestação de cuidados de saúde nessas mesmas instituições, quer em relação a cirurgias, quer em relação a consultas, quer em relação também às matérias relacionadas com o diagnóstico”.

Depois, defendeu a reforma que está em curso no SNS, assinalando que as medidas que estão em curso demoram tempo a produzir os seus resultados, designadamente no que respeita às unidades de saúde familiares do tipo B.

“Há também a implementação das unidades locais de saúde. Apenas conseguiremos resolver de uma forma sustentada o que se passa com a concentração de resposta nas urgências hospitalares se reforçarmos a capacidade dos centros de saúde, dos médicos de família e em rede. E de forma integrada articularmos esses esforços com os cuidados hospitalares”, sustentou, deixando neste ponto uma palavra de solidariedade ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e ao diretor executivo do SNS, Fernando Araújo.

Em relação ao futuro da TAP, José Luís Carneiro defendeu as decisões já tomadas por este Governo, embora não se tivesse referido especificamente ao facto de o atual executivo admitir uma privatização quase total da transportadora área nacional.

“Há decisões que estão tomadas por parte do Conselho de Ministros que são para respeitar. O que há que salvaguardar como mais relevante é garantir que o aeroporto de Lisboa, enquanto ‘hub’ transcontinental, é respeitado no caderno de encargos e é uma das condições em relação à decisão sobre a quem entregar essa privatização”, disse.

Neste contexto, destacou os resultados positivos da TAP e considerou essencial que a privatização seja feita sem pressa, tendo em vista salvaguardar a função estratégica da empresa.

José Luís Carneiro realçou então a importância da TAP “não apenas dos pontos de vista da economia, da sua relação intercontinental, mas também, particularmente, no serviço que faz à diáspora portuguesa”.

“Tem uma função estratégica que tem de ser salvaguardada no caderno de encargos, sem colocar em causa o seu valor. Não temos de o fazer com pressa. Temos de o fazer com amadurecimento e com ponderação sobre o interesse nacional”, acrescentou.