PCP defende que “única saída” da crise é dissolver parlamento e convocar eleições

Foto: António Cotrim / Lusa
O secretário-geral do PCP defendeu, esta quinta-feira, que a “única saída” da crise política é a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas e acusou o PS de só divergir com o Governo em casos e não políticas.
“Verificada que seja a derrota deste Governo, afastadas que sejam as manobras para garantir a sua continuidade com outros rostos, confirmada que está a impossibilidade de, no quadro da atual composição da Assembleia da República, se encontrar a resposta necessária aos problemas do país, a clarificação da vida política nacional exige como única saída a dissolução da Assembleia e a convocação de eleições”, defendeu Paulo Raimundo no comício do 104.º aniversário do PCP, no Pavilhão Casal Vistoso, em Lisboa.
O secretário-geral do PCP defendeu que a questão atual “não é saber como evitar uma crise política”, mas sim “como se sai da crise governamental, da instabilidade política e, acima de tudo, como se sai da instabilidade da vida de milhões e milhões que cá trabalham e vivem”
Defendendo que, “para lá da gravidade de factos e acontecimentos deploráveis” envolvendo o primeiro-ministro, a “questão essencial é a da política do Governo”, Paulo Raimundo considerou que a prática deste executivo demonstrou que “não está em condições de responder aos problemas nacionais”.
“A política e a prática do Governo o que exigem é que se interrompa o mais rápido possível a sua agenda de retrocesso, a sua agenda de degradação da vida de cada um de nós”, disse, sustentando que as “eleições podem e devem constituir uma oportunidade para abrir caminho a uma outra política”.
Neste discurso, em que acusou Chega e IL de convergirem com o PSD/CDS “em tudo o que serve o grande capital”, Paulo Raimundo focou também as suas críticas no PS, que acusou de se ter juntado “uma vez mais à direita” esta quarta-feira, ao votar contra a moção de censura do PCP ao Governo.
Para o dirigente comunista, as discordâncias do PS relativamente ao Governo “limitam-se a casos, graves e inaceitáveis, mas que são apenas uma parte das razões que existem para censurar este Governo”.
“Uma opção que foi ficando patente nestes meses de vida do Governo PSD/CDS quando o PS recusou a moção de rejeição do PCP ao programa do Governo, quando recusou a comissão parlamentar de inquérito à ANA, quando viabilizou o Orçamento, apoiou a baixa do IRC aos grupos económicos, ou quando se juntou ao PSD e CDS na lei dos solos”, elencou.
Numa alusão também ao PS, Paulo Raimundo disse que, “ao contrário de outros que se afirmam da oposição, mas que, na hora H, estão lá sempre a pôr a mão por baixo do Governo”, o PCP optou por avançar com uma moção de segurança que, disse, “constituiu-se como o elemento decisivo de clarificação da vida política”.
“Ficou claro, e desmentindo todos os que em coro procuraram diminuir o valor da nossa iniciativa (…), que a moção de censura do PCP obrigou o Governo a vir a jogo, a anunciar uma moção de confiança que, como se sabe, estava longe de estar decidida ou planeada”, disse, acrescentando que, sem a moção de censura do partido, “o Governo teria tido no taticismo de outros as garantias de continuidade”.
Paulo Raimundo defendeu que eventuais eleições legislativas “podem e devem constituir uma oportunidade para abrir caminho a uma outra política”, frisando que “está na ação e luta dos trabalhadores e do povo” a possibilidade de concretizar uma política alternativa ao dar “mais força à CDU”.
“Avançamos com confiança e determinação para a batalha eleitoral”, assegurou, num discurso em que apelou à mobilização das centenas de militantes que o ouviam para tornar o PCP “mais forte e mais influente”.
PCP defende que paz se alcança com mais diplomacia e não com mais armas
O secretário-geral do PCP defendeu que a paz e a segurança não dependem do aumento das despesas militares ou “na militarização da União Europeia”, mas de “mais diplomacia, mais diálogo e solução política dos conflitos”.
Paulo Raimundo abordou a situação internacional, dois dias depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ter anunciado um pacote de 800 mil milhões de euros para investimento em defesa.
O secretário-geral do PCP considerou que, “infelizmente, face à eventualidade do início de um processo de negociação, as potências imperialistas europeias insistem no prolongamento da guerra, contando com o poder instalado na Ucrânia para continuar a sacrificar os ucranianos como carne para canhão”.
“E lançam-se no aumento das despesas militares e na escalada armamentista, empurrando os povos da Europa para o abismo”, criticou.
Para Paulo Raimundo, “a deriva militarista e a obsessão pela guerra que impregna os centros de decisão da UE aí está sem fim à vista”.
“Agora, até esse dogma do défice dos seus limites, essa vaca sagrada invocada para impor empobrecimento e exploração que tão bem conhecemos no nosso país nos dizem que pode ser ignorado se resultar de mais despesas com armas e guerra”, referiu.
O secretário-geral do PCP considerou que, “para a saúde, educação, proteção social e habitação, pensões e salários” há sempre a desculpa de que não há recursos.
“Dizem-nos sempre que os orçamentos não aguentam. Mas para a guerra é à ‘tripa forra’ e o défice já não importa”, criticou, recebendo um forte aplauso das centenas de militantes que o ouviam no pavilhão.
Pedindo que se ponha fim à “loucura de confrontação e guerra”, Paulo Raimundo defendeu que “a paz e a segurança não estão no aumento das despesas militares, não estão na militarização da UE e na sua transformação num bloco belicista”.
“A paz e a segurança alcançam-se com mais diplomacia, mais diálogo e solução política dos conflitos e com mais respeito pelos princípios do direito internacional”, frisou.
O secretário-geral do PCP abordou ainda a postura recente do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o conflito na Ucrânia, considerando que o seu “reposicionamento tático” não tem “nada a ver com paz e cooperação entre os povos”, mas visa antes garantir que Washington continua “a tentar impor os seus interesses e ditames ao mundo”.
“Uma reconfiguração estratégica que, apesar das dificuldades no plano interno e externo, procura que os Estados Unidos se centrem ainda mais na política de confrontação com a China”, disse.
Para o secretário-geral do PCP, “os desenvolvimentos da situação internacional, nomeadamente os decorrentes das medidas e posicionamentos da administração Trump, são expressão das principais tendências que estão a marcar a evolução do mundo”.
“Trump não é um acidente de percurso do sistema é, isso sim, um percurso e instrumento do capitalismo”, defendeu.
A nível nacional, Paulo Raimundo defendeu que o Governo deve agir de acordo com a Constituição da República, que estipula que “deve promover a paz e a cooperação, não o militarismo, a corrida aos armamentos e a guerra”.
“Convicto da sua razão, não recuando perante falsidades e deturpações, o PCP continua firme e corajosamente na defesa da paz. Aqui estamos empenhados no desarmamento geral, simultâneo e controlado, pela dissolução dos blocos político-militares e do estabelecimento de um sistema de segurança coletiva”, disse.