O último filme de Clint Eastwood?

Clint Eastwood prepara-se para regressar à realização com “Juror nº 2” — poderá ser o derradeiro título da sua longa e e notável filmografia.

Como se costuma dizer (quando não sabemos o que dizer…), eis uma notícia, vinda de Hollywood, que “vale o que vale”. A saber: Clint Eastwood está a preparar aquele que poderá ser o seu último filme — intitula-se “Juror nº 2” e, quando começar a respectiva rodagem, em meados de junho, o actor/realizador já terá celebrado o seu 93º aniversário (a 31 de maio).

Em boa verdade, não há nenhuma declaração oficial que permita confirmar se, de facto, o cineasta de títulos como “Bird” (1988), “As Pontes de Madison County” (1995) ou “Million Dollar Baby” (2004) está a pensar encerrar a sua carreira. Uma coisa é certa: seja qual for o lugar que “Juror nº 2” venha a ocupar na sua filmografia, Clint Eastwood é um dos mais idosos autores cinematográficos em actividade — por exemplo, Martin Scorsese, outro gigante do cinema “made in USA” (cujo novo filme, “Killers of the Flower Moon”, estará em maio em Cannes) tem “apenas” 80 anos de idade.

Vale a pena recordar, sobretudo, a insólita e paradoxal afirmação artística e autoral de Clint Eastwood nos idos de 1960/70. Desde logo porque, depois de alguma visibilidade na televisão, sobretudo com a série “Rawhide” (1959-1964), a sua popularidade realmente só se consolidou graças à trilogia de “westerns” — “Por um Punhado de Dólares” (1964), “Por Mais Alguns Dólares” (1965) e “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966) — que rodou na Europa sob a direcção do italiano Sergio Leone. Depois porque o seu trabalho como realizador começou muito cedo — com “Play Misty for Me/Destinos nas Trevas”, um “thriller” lançado em 1971 —, mais de duas décadas antes de “Imperdoável” (1992), o filme que o consagrou nos Óscares.

Com cerca de quatro dezenas de títulos realizados (e mais de 70 como actor), Clint Eastwood continua a ser muitas vezes reduzido a um símbolo do “western” — aliás, o seu mais recente título, “Cry Macho” (2021) é, justamente, uma história dos nossos dias, mas encenada com o espírito de um velho “western”. O certo é que tal “rótulo” se revela, no mínimo, insuficiente para dar conta da pluralidade temática e estética da sua trajectória.

Lembremos apenas os casos modelares, muito menos conhecidos, de filmes como “Caçador Branco, Coração Negro” (1990), inspirado na figura do realizador John Huston, “Um Mundo Perfeito” (1993), um policial tão original quanto perturbante, protagonizado por Kevin Costner, ou “Jersey Boys” (2014), evocando a banda pop/rock The Four Seasons [trailer]. Através de narrativas tão variadas, Clint Eastwood é um retratista apaixonado dos temas, mitos e contradições da história do seu país. Daí que aguardemos “Juror nº 2” com expectativa, sabendo que se trata de um filme de tribunal e que nos principais papéis vão estar Nicholas Hoult, Toni Collette e… Clint Eastwood.