Mulher alegou ter sido violada por Trump, segundo novos documentos do caso Epstein

Foto: AFP
Os novos documentos do caso Epstein divulgados pelo Departamento de Justiça norte-americano incluem um depoimento, registado pelo FBI, sobre uma mulher que alegava ter sido violada por Donald Trump, atual presidente.
Incluído num novo lote de milhares de documentos divulgados hoje sobre o caso do criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein, o depoimento de 27 de outubro de 2020 não identifica a fonte das autoridades federais, nem a alegada vítima, uma vez que foram omitidos muitos detalhes.
Segundo o relato de um motorista de limusinas na região de Dallas, que afirma ter levado Trump para o Aeroporto de Fort Worth (Texas) em 1995, durante a viagem este disse coisas “muito perturbadoras”, tanto que quase o tirou do carro “para o agredir”.
Durante a chamada telefónica, Trump terá mencionado repetidamente o nome “Jeffrey” e referiu-se a “abusar de uma rapariga”, de acordo com o motorista.
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Relatou ainda que, quando contou sobre este encontro com Trump a uma mulher que conhecia, esta afirmou que “Donald J. Trump a tinha violado juntamente com Jeffrey Epstein”, depois de uma rapariga “com um nome estranho” a ter “levado para um hotel ou edifício de luxo”.
A pessoa que informou o FBI disse que aconselhou a mulher a “ligar para a polícia a informar sobre o incidente”, mas esta respondeu: “Não posso, eles vão matar-me”.
A testemunha afirmou que não teve mais notícias da alegada vítima até janeiro de 2000, quando outra pessoa lhe disse que a mulher “estava morta” e que “a encontraram com a cabeça ‘esmagada’ em Kiefer, Oklahoma”.
Afirma ainda que os investigadores que se deslocaram ao local do óbito disseram que “não havia forma de ter sido suicídio”, mas que o médico legista declarou oficialmente ter sido essa a causa de morte.
O Departamento de Justiça lançou um site na passada sexta-feira para acesso aos documentos da investigação sobre Epstein, que se suicidou na prisão em 2019, após a aprovação de uma lei no Congresso que exige que o Governo divulgue todas as informações não classificadas do caso.
Segundo as autoridades norte-americanas, pelo menos oito mil novos documentos da investigação foram tornados públicos, incluindo centenas de vídeos e gravações áudio, bem como imagens de vigilância da cela de Epstein, datadas de agosto de 2019.
O Departamento de Justiça disponibilizou cerca de 11 mil ligações para documentos adicionais, embora algumas não estejam acessíveis, alegando necessitar de mais tempo para divulgar o restante material de forma a proteger a identidade das vítimas potencialmente expostas em fotografias, vídeos e mensagens de texto.
A divulgação integral estava legalmente prevista até 19 de dezembro.
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Ao contrário de ficheiros divulgados no sábado passado, os novos incluem várias menções a Trump, que tem tentado distanciar-se o mais possível de Epstein e dos seus crimes, avançou hoje o The Washington Post, que teve acesso a documentos inicialmente divulgados e depois retirados.
Segundo os documentos hoje divulgados, Trump terá voado pelo menos oito vezes no avião privado de Epstein, incluindo uma viagem apenas com Epstein e uma jovem de 20 anos.
“Quero que saibam que os registos de voo que recebemos ontem [segunda-feira] refletem que Donald Trump viajou no jato privado de Epstein muito mais vezes do que o anteriormente relatado (ou do que tínhamos conhecimento)”, escreveu um procurador da Justiça do Distrito Sul de Nova Iorque num e-mail de janeiro de 2020, que está incluído nos autos do processo.
Trump voou nesse avião pelo menos oito vezes entre 1993 e 1996, escreveu o procurador, referindo que este período coincide com a investigação à cúmplice e ex-companheira de Epstein, Ghislaine Maxwell, que esteve em pelo menos quatro desses voos com o agora presidente.
Em alguns casos, acrescentou o procurador, aqueles que viajaram no avião poderiam servir de testemunhas no caso contra Maxwell, que foi condenada em 2021 a 20 anos de prisão por tráfico sexual de menores.
Os documentos revelam ainda que o FBI reuniu várias pistas sobre a relação entre Trump e Epstein durante festas realizadas nas respetivas propriedades no início dos anos 2000, embora não confirmem se houve investigações subsequentes.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos classificou hoje como “falsas e sensacionalistas” as alegações contra Trump contidas nos novos documentos divulgados.
Numa mensagem divulgada na rede social X, o Departamento de Justiça sublinou que algumas incluem acusações apresentadas ao FBI pouco antes das eleições presidenciais de 2020.
“Para que fique bem claro: estas alegações são falsas e infundadas”, assegura o Departamento de Justiça, que responde diretamente perante o presidente.