Ucrânia. O custo pesado mas inverificável de dois anos de guerra

Moscovo e Kyiv mantêm em segredo as suas perdas militares, e a Rússia esconde o número de civis mortos em áreas que conquistou.

Ocusto humano de dois anos de invasão da Ucrânia é de centenas de milhares de mortes, de acordo com números russos e ucranianos, mas a sua escala precisa permanece desconhecida.

Moscovo e Kyiv mantêm em segredo as suas perdas militares, e a Rússia esconde o número de civis mortos em áreas que conquistou, como a cidade devastada de Mariupol.

Os relatórios oficiais sobre civis mortos desde o início da invasão russa em 24 fevereiro de 2022 estão muito aquém da realidade, porque nunca foi possível fazer uma contagem independente, devido à falta de acesso aos territórios da Ucrânia ocupados pela Rússia.

Em junho de 2023, as autoridades ucranianas afirmaram que conseguiram contar 10.368 civis cujos corpos foram encontrados.

“Estimamos que o mais provável é que este número seja cinco vezes maior. Ou seja, cerca de 50 mil”, especificou então Oleg Gavrych, conselheiro do chefe do gabinete do Presidente Volodymyr Zelensky.

A ONU também considera que o número de vítimas é “consideravelmente superior” aos 10 mil civis mortos que registou até então.

As autoridades ucranianas estimam que só o cerco de Mariupol (fevereiro a maio de 2022), uma grande cidade portuária no sul do país agora sob controlo russo, deixou pelo menos 25 mil mortos, que foram enterrados em valas comuns.

Nenhuma avaliação foi alguma vez elaborada para outras cidades, como Bakhmut, no Leste, e palco de uma sangrenta batalha durante largos meses.

No lado russo da fronteira, o número de mortos é de pelo menos 145, segundo uma contagem realizada pelo ‘site’ de notícias russo 7×7.

Centenas de milhares de soldados

De ambos os lados, as perdas militares são dados que os estados-maiores mantêm em silêncio, mas outras fontes têm avançado alguns números.

O serviço russo da BBC e o site russo Mediazona identificaram cerca de 45 mil soldados russos mortos na Ucrânia nos últimos dois anos, numa investigação conjunta publicada na quarta-feira.

Mas esta contagem, que se baseia na utilização de fontes de acesso livre (avisos de óbito, comunicados de imprensa ou obituários), não pretende ser exaustiva e o número real de vítimas poderá ser duas vezes superior, segundo a BBC.

Em agosto passado, o jornal New York Times, citando responsáveis norte-americanos, estimou as perdas militares em 70 mil mortos e entre 100 mil e 120 mil feridos no lado ucraniano, e 120 mil a 170 mil mortos e 170 mil a 180 mil feridos no lado russo.

Em 29 de janeiro, numa resposta escrita a um parlamentar, o titular da Defesa britânico, James Heappey, estimou as perdas russas em mais de 350 mil mortos e feridos.

Na terça-feira, o Exército ucraniano calculou ter matado ou ferido perto de 405 mil soldados russos em dois anos.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, afirmou, por sua vez, em dezembro de 2023 que 383 mil soldados ucranianos foram mortos ou feridos desde o início da invasão.