O Porto fica mais importante quando tem gente que goste dele e está no poder”

Numa iniciativa promovida pelo Círculo do Clube dos Rotários do Porto, no auditório da Associação Nacional de Jovens Empresários ouviram-se diferentes pontos de vista sobre o futuro que poderá estar reservado à cidade do Porto. Para a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, a multiculturalidade vai crescer inevitavelmente, sendo também por isso necessário apostar na educação para a cidadania, considerando que a cidade “não é muito inclusiva”.

“O futuro que desejo para o Porto é um futuro com mais cultura, que permita alargar e redefinir pela inclusão de cidadãos cosmopolitas, migrantes e estrangeiros”, afirmou. A também representante do Estado no Conselho de Administração da Fundação de Serralves sugeriu alguns projetos a implementar: a criação de “uma verdadeira cidade literária”, um espaço sobre a emigração e a imigração, e “qualificar o turismo”.

Para Maria Cândida da Rocha e Silva, presidente do Conselho de Administração do Banco Carregosa, numa alusão ao período em que Francisco Sá Carneiro foi primeiro-ministro, “o Porto fica mais importante quando tem gente que goste dele e está no poder”.

“Não sei dizer-vos muito acerca do futuro. Quem é velho pensa mais no passado porque o futuro é pequenino”, confessou, mas não sem deixar um alerta. “O Porto precisava que olhassem mais para ele, que se preocupassem mais com ele e que gostassem mais dele”, lamentou Maria Cândida Rocha e Silva.

Por último, foi a vez do arquiteto Rui Loza, ex-vereador do Urbanismo na Câmara do Porto. Depois de uma resenha histórica sobre como a cidade foi sendo transformada ao longo dos séculos, deixou duas hipóteses para o futuro do Porto: um “risco do Dubai”, num cenário em que os edifícios crescem todos em altura, ou, por outro lado, “recuperar na escala certa”.

“O que me preocupa no futuro é, por um lado, a necessidade de estender os critérios de salvaguarda [do Património] para fora do Centro Histórico do Porto”, sugere Rui Loza, apelando a uma “atenção minuciosa e cuidada” como aconteceu naquela zona da cidade a outras áreas. Ao mesmo tempo, apela a que seja atribuído um uso aos monumentos como acontece com o programa cultural promovido na Igreja dos Clérigos.

Sobre a necessidade de o Porto fazer ouvir a sua voz, Rui Loza admite que “a democracia não existe sem os partidos”, mas que “a governação da cidade pode ficar prisioneira” dessas ideologias. Tendo feito parte da primeira lista independente liderada por Rui Moreira e que venceu as eleições autárquicas em 2013, considera que esse foi um “sinal de maturidade política” do Porto.

O debate foi moderado por Domingos de Andrade.